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A Senhora dos Gatos

Posted by Alice on 15:26 in

Toda a gente conhece a personagem “Senhora dos Gatos”. Esta senhora habitualmente apresenta-se como “Maria Arminda”, “Maria da Assunção” ou qualquer outro nome que faria a minha trisavó inchar de orgulho. Imaginamos esta senhora sozinha, com o marido morto de uma doença coronária qualquer, um filho morto no ultramar e outro, se existir, casado com alguém que não deseja ser a nora da “Senhora dos Gatos”. Sempre imaginei este tipo de senhoras muito sós e desamparadas pelo que a mim me parecia normalíssimo que adoptassem gatos como seus filhos. Porque não cães ou periquitos perguntam vocês? Provavelmente porque um cão teria energia demais para a pobre senhora e os periquitos…quer dizer..ninguém sabe o que lhes vai na cabeça não é? Não posso dizer “Ai depois, calcule, o periquito olhou para mim com a aquela cara como quem diz…”. Acho que tamanho disparate jamais brotou de alguma boca. Resumindo os gatos são o animal perfeito para isso. Como não são muito expressivos toda a gente pode usar a frase “Olhou para mim com aquela cara de como quem diz…”. Não me interpretem mal, eu adoro gatos e muito provavelmente esta frase já pronunciada pela minha pessoa. Concluindo esta era a minha ideia da “Senhora dos Gatos”.

E eis que uma senhora que por acaso é minha vizinha, veio deitar as minhas ilusões e esperanças por terra (o que é bastante desagradável da parte dela). Eis que no outro dia encontro a dita senhora, que por acaso se chama D. Arminda, a dar comida a uma gata meio vadia meio “ela é cá da rua” ao pé do meu prédio. Eu sendo uma rapariga de aldeia ainda não me desabituei completamente desse hábito horrível de dizer bons dias ás pessoas (detestável eu sei). Foi tudo o que a senhora precisou para me perguntar imediatamente se eu poderia alimentar a gata na semana que vinha. Ora a “semana que vinha” tinha um feriado bastante importante do qual não me consigo lembrar e por esse facto tive de dizer à senhora que não, que não poderia alimentar a gata. A senhora obviamente começou num pranto que incluíam as palavras “morrer”, “fome” e “abandonada”. Eu tentei sossegar a senhora dizendo que haviam pelo menos 5 pessoas diferentes que deitavam comida àquela gata (o que se pode atestar pelo facto de a gata rebolar e não andar). Mas a senhora disse que a comida dela é que era a comida boa porque os 6 gatos dela estavam lindamente. Até aqui eu ainda a tinha em conta como uma vulgar “Senhora dos Gatos”. E então ela supreende-me dizendo “Eu não queria ir pra fora prá semana o meu homem é que me convenceu!” Oláá… ela tem marido? Algo não está bem… e quando eu ainda estava meia zonza com aquela estocada ela atira com o golpe final. “É só porque a minha filha vai ser operada a uma perna e o meu homem quer ir lá para a ajudar que ela não pode andar nem fazer nada… Mas custa deixar a bichana aqui sozinha…”

Isto senhoras e senhores mostra duas coisas. Primeiro, que as “Senhoras dos Gatos” podem ser bastante enganadoras, as pelintras. Segundo, não sei se me hei-de admirar com o amor desta senhora pelos animais em geral e os gatos em particular, ou ter pena da filha deve ter tido uma infância bastante triste a viver presa com uma trela no fundo do quintal enquanto o gato ia à escola.



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